A semana que passou foi histórica para os esforços pela regulação do funcionamento das plataformas digitais no Brasil. À luz da decisão do STF de responsabilizar as Big Techs pela retirada do ar de qualquer conteúdo ofensivo, falso ou ilegal veiculado nas suas redes sociais, a professora da Escola de Comunicação e diretora do NetLab da UFRJ Rose Marie Santini escreve sobre o funcionamento quase indecifrável dos algoritmos que determinam o conteúdo a que somos expostos na internet. E, consequentemente, o risco de formação de uma consciência coletiva moldada mais pelos interesses dos donos dessas tecnologias do que pelo livre arbítrio do espírito humano.

Também sobre esse assunto, Marcelo Alves dos Santos Junior, professor do Departamento de Comunicação da PUC-Rio, revela em seu artigo o resultado de uma pesquisa feita com vídeos políticos publicados no YouTube entre julho de 2022 e janeiro de 2023. A pesquisa revelou que, embora o YouTube tenha removido mais de 10 mil vídeos e 2,5 mil canais por violação das políticas eleitorais brasileiras nesse período, a maioria das remoções não apresentou justificativas claras. Isso evidencia uma política pouco transparente na relação da empresa com conteúdos que, a partir de agora, precisarão ser fiscalizados com muito mais eficiência.

A temática das novas tecnologias disruptivas no Brasil também aparece no artigo de Katia Augusta Maciel e Inês Maciel, professoras de Escola de Comunicação da UFRJ, que escrevem sobre outro impasse regulatório brasileiro. Desta vez, na área da Inteligência Artificial. Lembrando que o problema não se limita ao Brasil, a dupla destaca a busca global de um modelo capaz de equilibrar inovação e proteção de direitos. Tudo para evitar entregar o futuro da tecnologia mais revolucionária do século às mãos invisíveis do mercado.

Em outra esfera do conhecimento, mas igualmente relevante para os tempos atuais, publicamos o artigo de Thiago Ferreira Pinheiro Dias Pereira, pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Turismo de Drogas da UERJ sobre o crescimento do turismo canábico do mundo.

Boa leitura!

Daniel Stycer

Editor-chefe

Segundo o Escritório de Drogas e Crimes da Organização das Nações Unidas, a cannabis é a substância mais consumida globalmente: em 2021, havia 219 milhões de usuários. Com sua legalização em diversos países, surgiram oportunidades para o turismo canábico, que já é explorado por agências e empreendimentos especializados. Imagem gerada por AI / Envato labs

Passaporte verde: experiências canábicas como segmento turístico começam a ganhar relevância internacional

Thiago Ferreira Pinheiro Dias Pereira, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

O turismo canábico já é uma realidade em diversos países, incluindo o Brasil, como roteiro de feiras, exposições e marchas

Algoritmos: como funciona a caixa preta que define o que vemos nas redes sociais

R. Marie Santini, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

O algoritmo é uma programação feita por humanos, com pesos baseados em interesses e ganhos econômicos. E o que vemos é que as plataformas priorizam o que gera mais atenção e lucro, não o que é mais relevante, de qualidade ou confiável

Brasil segue em meio a impasses sobre como regular Inteligência Artificial

Katia Augusta Maciel, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Inês Maciel, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

O desafio é monumental: como equilibrar inovação, soberania nacional, direitos fundamentais e segurança jurídica sem cair no velho dilema do “jeitinho”?

Deep techs e as tecnologias disruptivas: no limiar entre a ciência e a inovação

Adriano D. Andricopulo, Universidade de São Paulo (USP)

Debate busca identificar oportunidades para o avanço científico e tecnológico do Brasil, especialmente em áreas críticas para sua soberania e desenvolvimento sustentável

Déficit de transparência: uma análise sobre a remoção de vídeos políticos no YouTube

Marcelo Alves dos Santos Junior, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)

A remoção de conteúdos de redes sociais precisa de mais transparência para proteção da democracia digital

Intenacional

Paz armada: até quando a ameaça de destruição mútua conseguirá manter estabilidade no volátil Oriente Médio

Alexandre Ramos Coelho, Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP)

A tese de que o Irã nuclearizado poderia criar um equilíbrio de poder com Israel é aceita na comunidade internacional, mas carece dos elementos que garantiram sua eficácia na Guerra Fria

O militarismo de Trump não é exceção, mas um reflexo da cultura norte-americana

Clarissa Nascimento Forner, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

O desafio da comunidade internacional não é apenas conter os abusos de um governante específico, mas questionar os mecanismos que naturalizam a lógica militar em espaços civis

Nova corrida nuclear desafia papel histórico do Brasil no desarmamento

Armando Alvares Garcia Júnior, UNIR - Universidad Internacional de La Rioja

País não é uma peça marginal no contexto geopolítico. Dimensões continentais, programa nuclear próprio, ambições de liderança regional e trajetória diplomática consolidada são as provas disso

Enriquecimento de urânio: como um elemento espantosamente comum é processado para alimentar reatores e construir bombas

André O. Hudson, Rochester Institute of Technology

O enriquecimento do urânio concentra um tipo específico do átomo capaz de liberar enormes quantidades de energia

De olho na Cop 30

Como a Restauração Ecológica pode confundir controles sociais de desmatamento e queima de combustíveis

José Marcelo Domingues Torezan, Universidade Estadual de Londrina (UEL)

Cada vez mais usada para gerar créditos de carbono, a restauração ecológica não é capaz de capturar todo o resultado da queima de combustíveis fósseis e do desmatamento

Outros destaques