Nem mesmo o furacão Milton - mostrando mais uma vez que as mudanças climáticas estão agravando ainda mais o que já era catastrófico - foi capaz de superar: o personagem da semana no mundo da ciência foi a Inteligência Artificial.

Ela está por trás - ou na origem - de dois dos quatro prêmios Nobel anunciados nos últimos dias. O prêmio de Física foi para os cientistas responsáveis pelos estudos pioneiros sobre aprendizagem de máquina, que abriram as fronteiras para o desenvolvimento da IA que conhecemos hoje. E o de Química está nas mãos do trio de bioquímicos que usaram a Inteligência Artificial no estudo da predição de estruturas de proteínas, com impactos profundos na medicina.

A pedido do The Conversation Brasil, o professor do Departamento de Química da PUC-Rio André Silva Pimentel escreveu dois artigos, um sobre cada prêmio. Num, destacando como e por quê o estudo laureado de bioquímica é importante. E no outro, como a IA já se tornou uma ferramenta fundamental para ajudar a ciência a avançar.

Outros aspectos menos auspiciosos da IA também foram abordados em artigos publicados esta semana. A difusão acelerada da tecnologia em diversos setores da sociedade vem provocando preocupações sociais, desde o risco da eliminação de postos de trabalho à invasão de privacidade, passando pela discriminação social e o abuso de tecnologias de vigilância para monitoramento político e social. Estas e outras questões são abordadas no artigo de Robert Muggah, co-fundador do Instituto Igarapé e pesquisador especialista em tecnologia da PUC-Rio.

E para completar, um uso flagrantemente pernicioso da AI - para o cometimento de crimes de assédio sexual - é o foco do artigo de Sungshin Bae, especialista em Política de Igualdade Gênero da Monash University, que escreve sobre a crise de pornografia deepfake que preocupa a Coreia do Sul, e destaca que a mesma tecnologia que alimenta o crime pode ser a solução para combatê-lo.

Boa leitura!

Daniel Stycer

Editor-chefe

Cidades inteligentes e monitoramento permanente: a intensificação da vigilância e da violação de privacidade é um dos efeitos preocupantes da integração da IA na sociedade. E isso pode, intencionalmente ou não, infringir a privacidade, as liberdades civis e os direitos humanos. AP Photo/Alexander Zemlianichenko

Disseminação da Inteligência Artificial no Sul Global tem muitos riscos, mas também tem soluções

Robert Muggah, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)

Apesar das mensagens tranquilizadoras do setor de tecnologia, as preocupações em relação ao impacto negativo da rápida adoção da IA na sociedade estão aumentando

MicroRNA, descoberta ganhadora do Nobel de Medicina de 2024, pode curar doenças ao controlar o genoma

Andrea Kasinski, Purdue University

Victor Ambros e Gary Ruvkun ganharam o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2024 pela descoberta dos microRNAs, moléculas que ligam e desligam os genes - e provocam doenças quando não funcionam corretamente.

Prêmio Nobel de Química: como a IA está revolucionando a predição de estruturas de proteínas

André Silva Pimentel, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)

A predição de estruturas de proteínas com IA tem aplicações extraordinárias em várias áreas. Na medicina, por exemplo, ela pode ser usada para criar medicamentos mais eficazes e com menos efeitos colaterais

Aprendizagem de máquina: a revolução de Hopfield e Hinton, Prêmio Nobel de Física de 2024, que transformou a ciência

André Silva Pimentel, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)

Diferente dos métodos tradicionais de programação, onde tudo precisa ser explicitamente codificado, a aprendizagem de máquina permite que computadores desenvolvam suas próprias regras e soluções

Análise: A universidade brasileira precisa sair da bolha e inovar mais

Alaor Silvério Chaves, UFMG; Adalberto Fazzio, Centro de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM); Ado Jorio de Vasconcelos, UFMG; Jorge Almeida Guimarães, UNIFESP; Rodrigo Barbosa Capaz, CNPEM

Movimento Reforma Universitária defende a criação de Centros de Formação em Áreas Estratégicas, que atuariam em projetos práticos em parceria com a indústria e a iniciativa privada

De Olho na COP 30

Perda da cobertura natural deixa Brasil mais vulnerável à crise climática

Julia Shimbo, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM)

Já não basta parar de desmatar: é preciso começar a recuperar a cobertura vegetal destruída. E isso precisa ser feito com urgência, já que nos aproximamos do ponto de inflexão, que tornará as perdas irreversíveis.

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