Olá,

O crescente interesse dos EUA nos minerais estratégicos brasileiros, verbalizado na quarta-feira pelo encarregado de negócios da embaixada americana Gabriel Escobar, insere o país de forma direta nas disputas geopolíticas. Esses recursos são indispensáveis à produção de baterias, painéis solares, turbinas eólicas, veículos elétricos, semicondutores, equipamentos médicos, sistemas de defesa, satélites e infraestrutura digital de alto desempenho.

O domínio da China sobre a cadeia de suprimentos de minerais críticos representa uma crescente preocupação para os Estados Unidos. Em um cenário no qual a supremacia econômica e tecnológica está cada vez mais ancorada em infraestruturas físicas — como fontes de energia renovável, veículos elétricos e data centers —, o subsolo brasileiro adquire um valor geoeconômico ainda maior. É o que nos revela a dupla de pesquisadores João Stacciarini, da Universidade Federal de Goiás, e Ricardo Assis Gonçalves, da Universidade Estadual de Goiás.

A evolução cada vez mais acelerada das ferramentas de Inteligência Artificial tem se mostrado cada vez mais perigosa. Esta semana, dois artigos de outra dupla de colaboradores no The Conversation Brasil especializados no tema - Ergon Cugler, pesquisador em desinformação da Fundação Getulio Vargas, e Camila de Camargo Modanez, pós-graduanda em Estratégia e Liderança Política pela Unicamp - abordam esses novos riscos.

No primeiro deles, uma visão de como está evoluindo o uso da IA para fraudar a divulgação científica e aplicar golpes. Com a evolução das deep fakes, não se trata mais apenas de um falso Drauzio Varela vendendo tônico capilar, mas personalidades médicas inteiramente construídas, com imagem, voz e interação pessoal, vendendo produtos e panaceias milagrosas para pacientes desesperados, com doenças graves.

No segundo, uma constatação de como a evolução acelerada das atuais ferramentas de criação e edição de vídeos em IA estão estimulando um mercado crescente que se mostra cada vez mais lucrativo: o da propagação de teorias da conspiração. Elas incluem ufologia de ficção científica e delírios arqueológicos cada vez mais verossímeis, feitos para tirar dinheiro de desavisados e, claro, descredibilizar o conhecimento científico tradicional.

Por outro lado, publicamos esta semana também, no artigo do colaborador Brunno Ferreira dos Santos, professor de Engenharia Química de Materiais da PUC-Rio, um estudo sobre as novas formas de utilização da Inteligência Artificial para reduzir riscos, minimizar danos e aumentar a margem de produtividade e segurança nas atividades de prospecção e exploração de óleo e gás no fundo do oceano. Uma ajuda e tanto, enquanto a tão desejada transição energética não vem na escala em que o mundo tão desesperadamente necessita.

Boa leitura!

Daniel Stycer

Editor-chefe

Mina Boa Vista, de extração a céu aberto de nióbio em Catalão (GO) pela mineradora chinesa CMOC. Foto cedida pelos autores

Minerais estratégicos em jogo: o interesse dos EUA no subsolo brasileiro

João Stacciarini, Universidade Federal de Goiás (UFG); Ricardo Assis Gonçalves, Universidade Estadual de Goiás (UEG)

Por que os Estados Unidos querem minerais brasileiros em troca de concessões comerciais — e o que isso revela sobre a geopolítica dos recursos críticos

Reptilianos e a cidade perdida de Ratanabá: como vídeos feitos por IA turbinam delírios e teorias da conspiração

Ergon Cugler, Fundação Getulio Vargas; Camila de Camargo Modanez, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Com ferramentas de IA, qualquer pessoa pode transformar delírios em vídeo com qualidade cinematográfica. O que antes era descartado como devaneio hoje ganha seguidores e gera dinheiro. É aprofissionalização da conspiração.

Inteligência Artificial é cada vez mais usada para fraudar divulgação científica e aplicar golpes

Ergon Cugler, Fundação Getulio Vargas; Camila de Camargo Modanez, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Com as novas ferramentas, qualquer rosto ou voz pode ser sequestrado. Qualquer autoridade médica, jornalística ou científica pode ser falseada para vender produtos e tratamentos fraudulentos, colocando até a vida das vítimas em risco.

Mais precisão e menos riscos: saiba como a Inteligência Artificial influencia a indústria de óleo e gás

Brunno Ferreira dos Santos, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)

Departamento de Engenharia Química e de Materiais da PUC-Rio desenvolve soluções tecnológicas que usam a IA para aumentar a eficiência dos processos, reduzir os custos operacionais e ampliar a segurança das operações em óleo e gás

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