Olá,

A eleição de um papa americano, o primeiro da História, não surpreendeu os analistas da diplomacia eclesiástica. Há muito que bispos e cardeais norte-americanos ampliam sua influência, geralmente conservadora, sobre os destinos do Vaticano. O que pouca gente esperava é que a eleição de um papa americano fosse soar para católicos do mundo inteiro como um aceno democrático frente a políticas xenofóbicas e extremamente conservadoras do governo de Donald Trump.

É sobre isso que abordam os últimos artigos publicados por nossos colaboradores em assuntos da Igreja desde que o cardeal Robert Prevost surgiu na sacada da Basílica de São Pedro para ser anunciado como sucessor do Papa Francisco, na quinta-feira passada.

Não por acaso, publicamos nesta sexta também uma análise aprofundada do outro lado desta moeda. Nela, o professor de História da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Flávio Limoncic, descreve em detalhes as origens do comportamento cada vez menos constitucional do presidente americano na condução dos assuntos internos dos EUA.

O professor associado de Ciência Política da Universidade Federal do ABC (UFABC), Sérgio Amadeu da Silveira, escreve sobre a influência da falta de regulamentação das redes sociais no processo de deturpação dos conceitos de liberdade e democracia que atingem países como os EUA.

E temos ainda o artigo dos professores David Nemer, do Departamento de Antropologia da University of Virginia, e Arthur Coelho Bezerra, professor titular do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), sobre o processo de banalização do ódio às mulheres e à diversidade, que se torna cada vez mais violento e viralizado pelas redes sociais entre jovens do mundo inteiro.

Bom fim de semana!

Daniel Stycer

Editor

A escolha de Leão XIV mostra sensibilidade do Vaticano às populações menos favorecidas do mundo. No entanto, em uma Igreja onde o crescimento católico é mais pronunciado na África e na Ásia, a eleição de outro pontífice ocidental não está isenta de desafios. EPA/Ettorre Ferrari

A eleição de um papa americano sempre foi vista com preocupação, mas Leão XIV pode ser um importante contraponto a Trump

Massimo D'Angelo, Loughborough University

Antes de se tornar papa, Leão XIV criticou abertamente o atual governo dos EUA, especialmente em questões de política migratória

Democracia em erosão nos EUA: O “Estado Profundo” e a ofensiva de Donald Trump contra a ordem constitucional

Flávio Limoncic, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

O atual presidente dos EUA dissemina teorias conspiracionistas para minar os freios e contrapesos da democracia americana e implementar uma agenda política muito difícil de ser viabilizada por caminhos institucionais

Geração dividida: a gamificação do ódio e o abismo cada vez maior de gênero entre os jovens

David Nemer, University of Virginia; Arthur Coelho Bezerra, Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict)

Em vez de promoverem diversidade, muitas das redes sociais e outras plataformas digitais populares funcionam como máquinas de produção e circulação de ódio entre jovens, com mulheres e minorias entre seus principais alvos

Roma escolheu um latino de Chicago: sinal de continuidade nas mudanças em curso na Igreja Católica

Armando Alvares Garcia Júnior, UNIR - Universidad Internacional de La Rioja

Formado em matemática, o agostiniano Robert Francis Prevost, missionário e bispo em Chiclayo, no Peru, revela um estilo próximo das comunidades e distante das disputas de poder

Leão XIV: um americano enraizado na América Latina assume legado de reformas iniciado por Francisco

Dennis Doyle, University of Dayton

Cada papa traz uma visão e uma agenda distintas para liderar a Igreja. Fazer mudanças é difícil na Igreja Católica, mas as ações de Francisco podem ter aberto o caminho

Sem regulação, plataformas digitais ampliam conflitos sociais e deturpam conceitos de liberdade e democracia

Sérgio Amadeu da Silveira, Universidade Federal do ABC (UFABC)

Defensores da desregulamentação, liderados pelas bilionárias Big Techs, propagam a falsa ideia de que controlar as redes sociais é censura, e usam conceitos falsos de liberdade para ampliar lucros

Hiperconectados: a frágil fronteira entre o uso excessivo e a dependência digital patológica

Anna Lúcia Spear King, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

A distinção entre essas situações não pode se basear somente na quantidade de horas passadas nas redes sociais. Ela exige uma análise criteriosa de profissionais especializados em psicologia e psiquiatria

Outros destaques